quarta-feira, 15 de março de 2017

Cabeças




Eu sou um jovem adulto, tenho hoje 27 anos.

a minha história começou quando tinha 10 anos, era uma criança como as outras, sem nada a acrescentar, tinha uma irmã, e um irmão mais pequeno.

em crianças, tinhamos muitos amigos que iam para a rua brincar conosco. minha irmã tinha uma amiga muito próxima, chamava-se ana. a ana era um amor de menina, um anjo autentico, sua mãe era uma dentista divorciada, um pouco galdéria, mandava a filha para a rua para poder receber seus amigos homens em casa.

certo dia, a menina ana, ao ir para a escola, morreu atropelada.

na altura, foi algo muito traumatizante, para todos.

tudo começou nesse dia, nessa noite. quando ia para a cama, comecei a ter todas as noites o mesmo sonho. estava num armazém escuro, sem nada, esfomeado, procurando algo, no fundo do armazém encontrava-se uma estante.

eu aproximava-me. nessa enorme estante,cheia de preteleiras, havia apenas uma coisa... a cabeça de ana, decepada. de seguida, acordava com o coração aos pulos, isto com 10 anos de idade. era um filme de terror, todas as noites, até que um ano depois, um amigo meu com apenas 12 anos, morre atropelado por um comboio, metade de sua cabeça fica desfeita.

a partir desse dia, quando ia dormir, encontravam-se duas cabeças decepadas na enorme estante, a de ana e a de nuninho, com parte da face desfeita.

e todas as noites o mesmo sonho, o armazém, a fome, a caminhada até ao movel, e as cabeças alí, estáticas, como vasos decorativos de um sociopata.

com o passar dos anos, fui crescendo, e pessoas a minha volta, iam morrendo, e essas mesmas, fosse por acidente ou não, iam aparecendo na estante, agora 17 anos depois, quando ia dormir, deparava-me com uma enorme coleção de cabeças decepadas, amigos, conhecidos, até familiares, e ja tinha mais de 50 cabeças espostas.

e todas as noites o numero de cabeças ia crescendo, e nunca consegui dormir uma unica noite sem acordar com uma enorme dor de cabeça.

até que uma noite, tudo mudou, finalmente compreendia o significado de tanto terror, ali estava, novamente, no sonho, caminhei pelo armazém, esfomeado, procurando comida, e ao chegar ao fundo, lá estava a estante, desta vez completa, havia uma ultima cabeça que completava aquele show de horrores, era a minha própria cabeça!

e nunca mais acordei, pois tambem eu tinha morrido.


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